'Sem dono', Olímpico sofre abandono. OAS dá calote em empresa de demolição

(Foto: Marinho Saldanha/UOL)















Ele viu tantos gols de Renato Gaúcho, foi onde ocorreram as maiores glórias do Grêmio. Recebeu o Ronaldinho Gaúcho e acompanhou seus primeiros toques na bola, e outros tantos momentos memoráveis. Mas hoje não passa de um canteiro de obras, sem obras. O estádio Olímpico Monumental está 'sem dono'. Oficialmente ainda pertence ao clube, mas será repassado à OAS [empresa que construiu a Arena] como pagamento pela nova casa. Só que esta história está bem longe do fim. A empreiteira deu calote nas empresas que fizeram parte da demolição do estádio e o último dia do 'Velho Casarão' ainda parece longe. 

A OAS está diretamente envolvida nas denúncias da Operação Lava-Jato da Polícia Federal. Teve diretores presos e bens bloqueados. Atualmente, cortou mais da metade dos funcionários e tenta pagar o rombo ocasionado pela lavagem de dinheiro.

E tão logo passou a enfrentar tais problemas, parou de pagar as empresas que fizeram a demolição mecânica do Olímpico. O processo trata de preparar para implosão retirando paredes e locais que dificultariam a queda, além de organizar toda burocracia com os vizinhos e órgãos responsáveis para que a destruição ocorra. 

Foram duas empresas contratadas pela OAS para isso no Olímpico. A Ramos Andrade e a Demarco Engenharia. Nenhuma delas recebeu parte dos R$ 9 milhões, valor total para demolição. Atualmente, a Ramos e Andrade cobra R$ 2 milhões da OAS e a Demarco R$ 390 mil.

Reunião após reunião fica mais complicado o contato com a empresa. A última proposta à Demarco, por exemplo, apontava pagamento de R$ 90 mil de imediato e os outros R$ 300 mil em dois anos com o comprometimento da empresa não buscar na Justiça o pagamento. Foi rechaçada. 

A portaria da Avenida Carlos Barbosa, onde ocorreu a demolição mecânica, é, atualmente, de responsabilidade das empresas. Mas até sexta-feira, os quatro seguranças que fazem monitoramento e limpeza não estarão mais lá. As máquinas já foram retiradas e o portão será simplesmente fechado, entregue aos cuidados do Grêmio. 

Proteção do Olímpico com palavras pichadas por torcedores do Grêmio (Foto: Marinho Saldanha/UOL)















O vandalismo é evidente no que resta do Olímpico. Paredes pichadas durante a madrugada surgem a cada amanhecer. Dentro do estádio, o que resta é um campo que em nada lembra o tapete verde que recebeu tantos gols. Sem traves, sem marcações, com vegetais nascendo na pista atlética, sem saídas de vestiários. As arquibancadas ainda presentes, mas sem o mesmo tom de azul. Entulho, cadeiras que virarão sucata, um quadro de total abandono. 

Enquanto isso, na portaria da Avenida José de Alencar, o desenho é um pouco diferente. A última parte a funcionar do Olímpico segue, ao menos, apresentável. A pintura ainda é bonita. Ainda há árvores e o antigo estacionamento. O pórtico, o portão que permanece fechado, e apenas dois seguranças do clube que não deixam o local totalmente abandonado e ficam na antiga ouvidoria. O campo suplementar já não tem gramado para jogo e os anúncios do quadro social sucumbem ao tempo. 

Para a troca de chaves ser concluída, o Olímpico passar a ser da OAS e a Arena totalmente do Grêmio, a negociação da compra da administração do estádio precisa ser concluída. Mas o prazo se arrasta por conta dos problemas da OAS com a justiça. Além disso, agora há mais interessados, todos credores da construtora. 

E para demolir o Olímpico, a empreiteira contraiu um empréstimo dando como pagamento previsto os apartamentos que serão ali construídos. Ou seja, precisará agir logo para arcar com tantos e diferentes pagamentos a serem realizados. 

Enquanto isso, o 'Velho Casarão' gremista está ali, sozinho, abandonado, enfrentando um efeito que não perdoa: o tempo. É melhor que os aficionados sequer vejam o Olímpico hoje, passem despercebidos pelo estádio, mas guardem a lembrança dele em momentos melhores do que o atual. A primeira data de implosão marcava para janeiro de 2013. Ou seja, o atraso passa dos dois anos e ainda não parece próximo de ocorrer. 

* A OAS foi procurada através de sua assessoria de imprensa para se manifestar sobre as dívidas. Mas até o fechamento desta reportagem, não respondeu. 

UOL Esporte

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